A Lenda do Urutau

A Lenda do Urutau

Uma das mais belas lendas do folclore brasileiro é a do urutau. O urutau é um pássaro solitário e de hábitos noturnos que dificilmente se deixa ver. Pousando em um galho seco, fitando a lua e estremecendo a calada da noite, emite seu canto bruxuleante que mais parece um lamento. Por isso o povo o chama também de mãe-da-lua. Seu grito é, provavelmente o mais pavoroso de quantos se conhecem no mundo das aves. “Meu filho foi, foi, foi” – interpreta o povo. Por causa disso, o urutau é, muitas vezes, associado a maus presságios. Mas segundo a mitologia tupi-guarani, é uma ave benfazeja (mais informações vide post anterior intitulado Urutau, aqui mesmo).

Conta a lenda que Nheambiú, uma bela moça filha do tuxaua da nação guarani, se apaixonou profundamente por um bravo e generoso guerreiro tupi chamado Cuimbaé, que caíra prisioneiro dos guaranis. Nheambiú pediu a seus pais que consentissem em seu casamento com Cuimbaé. Esse e os posteriores pedidos foram terminantemente negados, com a alegação de que Cuimbaé era um tupi, um inimigo mortal dos guaranis.

Não suportando mais o sofrimento, Nheambiú desapareceu na floresta da taba. Foi um alvoroço. O velho cacique mobilizou seus guerreiros na procura da filha querida. Após uma longa busca, a jovem foi encontrada no coração da floresta, paralisada e muda, feito uma estátua de pedra. O pai sacudiu-a, mas ela nem dava sinal de vida.

Foi chamado, então, o feiticeiro da tribo, que a examinou e disse ao cacique:
- Nheambiú perdeu a fala para sempre; só uma grande dor poderá fazer Nheambiú voltar ao que era.

Então deram à jovem índia as noticias mais tristes possíveis: a morte de seu pai e de todos os seus amigos. Nada; ela nem se abalou. Aí o pajé se achegou e disse:
- Cuimbaé acaba de ser morto.

No mesmo instante, o corpo da moça estremeceu todo e ela, soltando repetidos lamentos, desapareceu na mata. Todos os que ali estavam, cheios de dor, se transformaram em árvores secas, enquanto Nheambiú tomou a forma do urutau e ficou voando, noite após noite, pelos galhos daquelas árvores amigas, chorando a perda do seu amor.

Dizem que foi dessa lenda que se originaram algumas supertições populares relativas ao urutau. Uma delas diz que “carta de amor escrita com pena de urutau tem sempre resposta favorável”. Já outra diz que a pele dessa ave preserva as donzelas dos deslizes e as protege contra os alheios de intenções menos honestas. Segundo José Veríssimo, na Amazônia há o costume de varrer o chão, sob a rede da noiva, com as penas da cauda do jurutauí (como é chamado por ali o urutau), a fim de se garantir para a futura esposa todas as virtudes.

Por essas e outras que não gosto de supertições, imagina se a moda pega? Coitados dos urutaus.

Mas a lenda é linda não é? Espero que tenham gostado tanto quanto eu.